sexta-feira, 16 de julho de 2010

"Escutatória"


Sempre vejo anunciados cursos de oratória. Nunca vi anunciado curso de escutatória.
Todo mundo quer aprender a falar, ninguém quer aprender a ouvir.
Pensei em oferecer um curso de escutatória, mas acho que ninguém vai se matricular.

Escutar é complicado e sutil.
Diz Alberto Caeiro que "não é bastante não ser cego para ver as árvores e as flores. É preciso também não ter filosofia nenhuma".

Filosofia é um monte de idéias, dentro da cabeça, sobre como são as coisas. Para se ver, é preciso que a cabeça esteja vazia.

Parafraseio o Alberto Caeiro:
"Não é bastante ter ouvidos para ouvir o que é dito; é preciso também que haja silêncio dentro da alma".

Daí a dificuldade: a gente não agüenta ouvir o que o outro diz sem logo dar um palpite melhor, sem misturar o que ele diz com aquilo que a gente tem a dizer. Como se aquilo que ele diz não fosse digno de descansada consideração e precisasse ser complementado por aquilo que a gente tem a dizer, que é muito melhor.

Nossa incapacidade de ouvir é a manifestação mais constante e sutil de nossa arrogância e vaidade: no fundo, somos os mais bonitos...
Tenho um velho amigo, Jovelino, que se mudou para os Estados Unidos estimulado pela revolução de 64.
Contou-me de sua experiência com os índios: reunidos os participantes, ninguém fala. Há um longo, longo silêncio.
(Os pianistas, antes de iniciar o concerto, diante do piano, ficam assentados em silêncio, [...]. Abrindo vazios de silêncio. Expulsando todas as idéias estranhas.).

Todos em silêncio, à espera do pensamento essencial. Aí, de repente, alguém fala. Curto. Todos ouvem. Terminada a fala, novo silêncio.

Falar logo em seguida seria um grande desrespeito, pois o outro falou os seus pensamentos, pensamentos que ele julgava essenciais.
São-me estranhos. É preciso tempo para entender o que o outro falou.

Se eu falar logo a seguir, são duas as possibilidades.
Primeira: "Fiquei em silêncio só por delicadeza. Na verdade, não ouvi o que você falou. Enquanto você falava, eu pensava nas coisas que iria falar quando você terminasse sua (tola) fala. Falo como se você não tivesse falado".

Segunda: "Ouvi o que você falou. Mas isso que você falou como novidade eu já pensei há muito tempo. É coisa velha para mim. Tanto que nem preciso pensar sobre o que você falou".

Em ambos os casos, estou chamando o outro de tolo. O que é pior que uma bofetada.

O longo silêncio quer dizer: "Estou ponderando cuidadosamente tudo aquilo que você falou". E assim vai a reunião.
Não basta o silêncio de fora. É preciso silêncio dentro. Ausência de pensamentos.
E aí, quando se faz o silêncio dentro, a gente começa a ouvir coisas que não ouvia.

Eu comecei a ouvir.

Fernando Pessoa conhecia a experiência, e se referia a algo que se ouve nos interstícios das palavras, no lugar onde não há palavras.

A música acontece no silêncio. A alma é uma catedral submersa. No fundo do mar - quem faz mergulho sabe - a boca fica fechada. Somos todos olhos e ouvidos. Aí, livres dos ruídos do falatório e dos saberes da filosofia, ouvimos a melodia que não havia, que de tão linda nos faz chorar.

Para mim, Deus é isto: a beleza que se ouve no silêncio. Daí a importância de saber ouvir os outros: a beleza mora lá também.

Comunhão é quando a beleza do outro e a beleza da gente se juntam num contraponto.

Autor:Rubem Alves 

quinta-feira, 15 de julho de 2010

"Os Momentos"


Um alguém? Você
Um orgulho? De ser sua
Uma tristeza? Em não te ver
Uma alegria? Em ter você


Um olhar? O seu
Uma cor? a dos seus olhos
Um sabor? O do seu beijo
Um ar? É você que me faz respirar


Uma esperança? Nos dois
Um mundo? O seu
Um medo? Em te perder
Um sonho? Casar-me com você


Um conselho? Não me deixe
Um sentimento? É te amar
Uma certeza? Nunca vou te deixar
Um caminho? Agente vai trilhar


Uma luz? A que brilha no horizonte
Uma jornada? Vamos enfrentar
Uma caminhada? Grande será
Uma aliança ? nos unirá



Um a rima? O de amar
Um verdadeiro amor? Nunca a de acabar
Um prazer? Em nos amar
Um final? Pra onde for vou te levar..
.

Autor:
Maíttah Colluci 


terça-feira, 13 de julho de 2010

"O Homem"


O homem, bicho da Terra tão pequeno
chateia-se na Terra
lugar de muita miséria e  pouca diversão
faz um foguete, uma cápsula, um módulo
toca para a Lua
desce cauteloso na Lua
pisa na Lua
planta bandeirola na Lua
experimenta a Lua
coloniza a Lua
civiliza a Lua
humaniza a Lua
Lua humanizada: tão igual à Terra
o homem chateia-se na Lua
Vamos para Marte, ordena à suas máquinas.
Elas obedecem, o homem desce em Marte
pisa em Marte
experimenta
coloniza
humaniza Marte com engenho e arte
Marte humanizado, que lugar quadrado
vamos a outra parte?
Claro  diz o engenho
sofisticado e dócil.
Vamos à Vênus
o homem põe o pé em Vênus,
Vê o visto, é isto?
Idem
Idem
Idem
O homem funde a cuca se não for à Júpiter
proclamar justiça com injustiça
repetir a fossa
repetir o inquieto
repetitório
 Outros planetas restam para outras colônias.
o espaço todo vira Terra-a-terra.
o homem chega ao Sol ou dá uma volta
só para te ver?
 Não  vê que ele inventa
roupa insiderável de viver no Sol
põe o pé e:
Mas que chato é o Sol, falso touro espanhol domado.
Restam outros sistemas fora
do solar a colonizar.
ao acabarem todos
só resta ao homem
(estará equipado?)
a dificílima dangerosíssima viagem
de si mesmo a si mesmo:
por o pé no chão
do seu coração
experimentar
colonizar
civilizar
humanizar
o homem
descobrindo em suas próprias inexploradas entranhas
a perene, insuspeitada alegria
de con-viver.

Autor: Carlos Drummond de Andrade


quinta-feira, 8 de julho de 2010

Procura-se um Amigo

Não precisa ser homem, basta ser humano, basta ter sentimentos, basta ter coração. Precisa saber falar e calar, sobretudo saber ouvir. Tem que gostar de poesia, de madrugada, de pássaro, de sol, da lua, do canto, dos ventos e das canções da brisa. Deve ter amor, um grande amor por alguém, ou então sentir falta de não ter esse amor.. Deve amar o próximo e respeitar a dor que os passantes levam consigo. Deve guardar segredo sem se sacrificar.
Não é preciso que seja de primeira mão, nem é imprescindível que seja de segunda mão. Pode já ter sido enganado, pois todos os amigos são enganados. Não é preciso que seja puro, nem que seja todo impuro, mas não deve ser vulgar. Deve ter um ideal e medo de perdê-lo e, no caso de assim não ser, deve sentir o grande vácuo que isso deixa. Tem que ter ressonâncias humanas, seu principal objetivo deve ser o de amigo. Deve sentir pena das pessoa tristes e compreender o imenso vazio dos solitários. Deve gostar de crianças e lastimar as que não puderam nascer.
Procura-se um amigo para gostar dos mesmos gostos, que se comova, quando chamado de amigo. Que saiba conversar de coisas simples, de orvalhos, de grandes chuvas e das recordações de infância. Precisa-se de um amigo para não se enlouquecer, para contar o que se viu de belo e triste durante o dia, dos anseios e das realizações, dos sonhos e da realidade. Deve gostar de ruas desertas, de poças de água e de caminhos molhados, de beira de estrada, de mato depois da chuva, de se deitar no capim.
Precisa-se de um amigo que diga que vale a pena viver, não porque a vida é bela, mas porque já se tem um amigo. Precisa-se de um amigo para se parar de chorar. Para não se viver debruçado no passado em busca de memórias perdidas. Que nos bata nos ombros sorrindo ou chorando, mas que nos chame de amigo, para ter-se a consciência de que ainda se vive.

Autor: Vinicius de Morais

segunda-feira, 5 de julho de 2010

"A Breve Segunda Vida de Bree Tanner"


Gente eu que sou fanática pela saga de crepúsculo,não podia deixar de ler o ultimo livro lançado recentemente.
O Livro é muuuuuuuiiiiitoooooo bom, recomendo a todos!!


   

domingo, 4 de julho de 2010

Preciso de alguém


Preciso de alguém que me olhe nos olhos quando falo.
Que ouça minhas tristezas e neurozes com paciência e ainda que não compreenda, respeite os meus sentimentos.
Preciso de alguém que venha brigar ao meu lado sem precisar ser convocado.
Alguém amigo o suficiente para dizer-me as verdades que não quero ouvir, mesmo sabendo que posso ficar irritado por isso.
Nesse mundo de céticos, preciso de alguém que creia nessa coisa misteriosa, desacreditada, quase impossível: a amizade.
Que teime em ser leal, simples e justo.
Que não vá embora se algum dia eu perder o meu ouro e não for mais sensação da festa.
Preciso de um amigo que receba com gratidão o meu auxílio, a minha mão estendida, mesmo que isto seja muito pouco para suas necessidades.
Um amigo que também seja companheiro nas farras e pescarias, nas guerras e alegrias, e que no meio da tempestade, grite em coro comigo:
“Nós ainda vamos rir disso tudo…”
Não pude escolher aqueles que me trouxeram ao mundo, mas posso escolher meus amigos [...]
Autor: desconhecido

quinta-feira, 1 de julho de 2010

"Adeus!"


Tudo que é bom,
Quando chega ao fim,
Nos deixa tristes,
pensativos.
Sempre passa pela nossa cabeça,
os momentos felizes,
como se fosse um filme reprizado,
mas sabemos que assim
que o filme termina
é hora de levantar a cabeça novamente,
e seguir sempre em frente.
pois o passado só serve para ser recordado,
ou que seja melhor nem ser lembrado,
quando causa dor.
Estou até meio perdido em minhas palavras,
ja não consigo dar sentido a elas,
uma dor me corroe por dentro
e não sei como acaba com ela,
mas tentarei ser forte
o quanto eu resistir,
quando não mais aguentar,
deitarei no chão e direi apenas...
Adeus!


Autor: Thiago Carneiro