domingo, 10 de maio de 2009



Ninguém sabia nada sobre dona Susana a não ser que era muito rica e excêntrica, ou seja, ela tinha hábitos estranhos e um pouco diferentes dos do resto das pessoas. Quando uma pessoa é pobre, não é chamada de excêntrica: ela pode ser tida como louca, mal-educada, desligada ou qualquer outra coisa; mas quando se é rico, como a dona Susana, então fala-se em excentricidade.Dona Susana pouco saía de seu quarto e, segundo contavam, vivia em companhia de uma filha ou afilhada — ninguém sabia ao certo — de nome Brigite.

Além de ficar a maior parte do tempo no quarto, dona Susana tinha outro hábito: só contratava para trabalhar em sua casa pessoas que já tivessem passado pelo manicômio, que é um hospital para doidos.Se muita gente se admirava dela contratar ex-birutas para trabalhar em sua casa, outras apreciavam aquele gesto de boa vontade para com essas pessoas que dificilmente conseguiriam algum emprego.As opiniões sobre dona Susana, apesar de poucas pessoas a terem visto, eram sempre assim: elogiosas de um lado e críticas de outro. Claro que mais críticas do que elogiosas.Um dia, espalhou-se a notícia que dona Susana havia sido internada num hospício. Foi um auê! Os comentários foram os mais diversos e seus críticos achavam que só poderia ser esse o destino de uma mulher tão estranha. Afinal, conviver diariamente com loucos só poderia deixá-la louca também.

Porém, as pessoas que a elogiavam, condoeram-se com o fato e passaram a se preocupar com a filha ou afilhada, da qual ouviram falar, mas que ninguém jamais havia visto. Como poderia ela viver sozinha naquela casa, sem a presença de dona Susana? O jeito era uma comissão ir à casa dela e procurá-la para oferecer apoio e ajuda se necessária.E formou-se uma comissão com os mais eminentes cidadãos da sociedade local a fim de fazer a visita.Ao chegar à casa, a comissão foi informada por um empregado que Brigite estava no quarto e que não descia desde a internação de dona Susana.

Discute-se aqui, discute-se ali, resolveu-se que subiriam ao quarto para conversar com a jovem. Mas o empregado afirmou que isso não seria possível, pois Brigite se assustaria com tanta gente estranha entrando em seu quarto de uma vez.Decidiu-se, assim, que apenas uma pessoa iria conversar com ela. E assim foi.Chegando ao quarto, a visita não viu ninguém. O empregado disse, então, que Brigite devia estar embaixo da cama, já que era extremamente tímida.A pobre visita, um respeitável industrial de cabelos brancos, não sabendo o que fazer diante de uma
situação tão excêntrica, sentou-se na cama e começou a conversar com Brigite, informando-lhe a razão da visita. Mas de nada adiantou o falatório, pois a jovem não disse absolutamente nada, nem saiu de baixo da cama.

Não vendo esperanças de sucesso em sua conversa, o industrial voltou à sala e narrou à comissão o acontecido. Outro membro do grupo subiu, descendo após alguns minutos, sem obter qualquer resposta. E assim, uma por uma das visitas foi ao quarto de Brigite e voltou sem nada conseguir.Finalmente, o último visitante subiu. Era um jovem que, tendo certa vez ouvido alguma coisa sobre a beleza dos olhos de Brigite, ficara encantado apenas de ouvir falar. Agora, tinha a oportunidade de conhecê-la e, quem sabe, conquistá-la. Com esse objetivo, ajoelhou-se aos pés da cama e começou a se declarar de forma apaixonada.

Não se passou muito tempo e a coberta da cama começou a mexer-se na barra e, após grande expectativa do jovem, apareceu a cabeça de Brigite, olhando-o com seus grandes e belos olhos castanhos.O jovem, ao vê-la, levantou-se e saiu do quarto correndo, quase chorando.Chegado à sala, ao vê-lo com aquela cara, todos perguntaram a razão de tão desconcertada expressão.A resposta foi a mais inesperada possível:


— Brigite é uma cachorrinha pequinês.

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